Já se vão, por aí, mais de quatro décadas. Em 15.03.1980 um grupo de idealistas de Curaçá fundou o Jornal Asa Branca, uma consequência natural dos ventos soprados pela lei de anistia de 1979 que, dentre outras coisas, afastava as restrições no que tange à liberdade de expressão.
Estávamos timidamente iluminados pelas luzes da chamada redemocratização, ainda na renhida luta dos brasileiros pelo fim dos governos militares (1964-1985).
Por conseguinte, a abertura “lenta, gradual e segura” idealizada pelo general-presidente Ernesto Geisel estava em andamento, mas não era tudo concernentemente às liberdades civis.
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Tempo politicamente difícil. Era perigoso contestar, discordar, sugerir, protestar. O
poderoso Serviço Nacional de Informações (SNI), órgão temido da ditadura, infiltrava-se em
tudo, até em reuniões da oposição e em inocentes aglomerações estudantis.
O núcleo desses idealistas de Curaçá era formado por Omar Dias Torres (Babá) e Salvador
Lopes Gonsalves e outros mais que gravitavam ao redor, dentre eles Antonieta Galdieri e
Coelhão, todos ávidos para mudar o estado de coisas imperante, principalmente emais
imediato, em Curaçá.
Como não havia espaço legal, tampouco estrutura para a oposição abrigar-se em partidos
políticos, a turma do Jornal Asa Branca engendrou uma brecha para se fazer presente em
todo
o território do município.
O Jornal Asa Branca se imiscuiu na zona rural, em fazendas, sítios, povoados, distritos.
Aquela rapaziada inteligente maquinou, forjou e lançou o Jornal Asa Branca no seio de
uma
sociedade tradicionalmente apática e acostumada a aceitar tudo e nada contestar.
O Jornal Asa Branca era rudimentar, mimeografado, distribuído mais entre admiradores do
que
propriamente leitores. Estes eram poucos, pouquíssimos. O que contava não era a
quantidade
de exemplares, nem a periodicidade do jornal, mas a disseminação das ideias que
defendia.
Eram ideias incomuns, por alguns até rotuladas de subversivas, porque contrariavam o
pensamento oficial. Estávamos ainda num período de pálida, mas vigilante censura à
imprensa.
Nem tudo podia ser dito, principalmente quando o que se dizia terminava ferindo
interesses
do status que arranhando o poder, tanto na esfera municipal quanto nas estadual e
federal.
“Fazer jornal é coisa de vagabundo” disse, em inflamado discurso na Sociedade dos
Vaqueiros,
um dos opositores do Jornal Asa Branca. Era assim o clima enfrentado por esses
idealistas e
persistentes curaçaenses.
As dificuldades eram muitas, visíveis, difíceis de contornar.
Não tinha computador, as
linhas telefônicas funcionavam precariamente, não existia internet e as informações eram
colhidas diretamente pelos editores. E aí nascia a credibilidade do jornal, porque as
fontes
e informações eram checadas diretamente por seus responsáveis.
A linha editorial cingia-se
mais a ideias e menos a notícias. A filosofia era conscientizar, contradizer, orientar,
arejar as mentes, desenferrujar os hábitos políticos.
Assim como o escritor, cantor e intelectual Chico Buarque de Holanda cutucava militares
dizendo “você não gosta de mim, mas sua filha gosta”, o pessoal do Jornal Asa Branca
cutucava o grupo político de Aristóteles de Oliveira Loureiro (Tote), incluído aí o
líder
inconteste da época Theodomiro Mendes da Silva, que tinha pavio curto e chegou a
protagonizar alguns incidentes com o Jornal.
De todos os Artigos que submeti à apreciação do Asa Branca, somente um intitulado Lei
de
Segurança Nacional não foi publicado. O jornal entendeu que não devia publicar aquela
espécie de estocada no principal mecanismo de repressão imposto pela ditadura.
Eu dizia
naquele artigo que a LSN era um perigo iminente sobre as cabeças dos brasileiros,
portanto,
deveria ser revogada. Instrumento jurídico fortíssimo, a história registra que até
recentemente o Supremo Tribunal Federal ainda discutia os resquícios daquele entulho
autoritário da ditadura.
O fato é que em 02/12/1981 eu recebia de volta o retro aludido artigo, acompanhado de
uma
polida carta de Omar Dias Torres (Babá), devolvendo-o e esclarecendo: “Dentre todos os
Artigos que você nos enviou, este foi o único não publicado”.
Babá é admirável, conspícuo, inteligente correto. Ele e Salvador Lopes Gonsalves, de
iguais
qualidades, comandavam o Asa Branca com responsabilidade e cautela.
Naquele tempo Babá
morava na Quadra D, do Bairro Castelo Branco, em Juazeiro. Lá era um dos tentáculos do
forno
de ideias do Asa Branca.
O Jornal Asa Branca foi o embrião que permitiu o esfacelamento das
práticas políticas de então, piores que as de hoje, trouxe esperança para a população e
abriu caminho para o surgimento de novas lideranças políticas no município.
Se essas novas
lideranças não corresponderam às expectativas dos curaçaenses, isto é outra história,
mas
destravaram o obscurantismo da época. É inegável.
A história recente de Curaçá também foi construída com a participação do Jornal Asa
Branca.
Seus abnegados fundadores ostentavam um preparo impressionante para lidar com situações
adversas, espírito de luta e, sobretudo, vontade de transformar estruturas e
mentalidades,
vontade essa arraigada em princípios incontrastáveis.
O livro História da Imprensa de Curaçá, do jornalista Maurízio Roberto Bim Moreira
(Curaçá,
2008) foi generoso ao registrar, com absoluto rigor científico, esse período de luta do
Jornal Asa Branca.
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"O Patamuté desenhando a realeza no meio das caatingas. [...] Alguém se deparou com uma gruta. Susto! O povo ficou admirado. Aquilo só podia ser obra do divino, coisa do começo dos tempos. Um padre andava fazendo pregação das Santas Missões. Foi lá, viu, se maravilhou. Resolveu fazer o encerramento da missão dentro dela. Levou os fiéis, fez veneração, botou o povo para rezar. No fim botou um cruzeiro dentro dela. Ficou aquele achado a fazer impressão no povo. Os ditos do missionário se grudaram na cabeça das pessoas. Não foi muito apareceu o padre Manoel Félix. Padre de vida boa, seguidor dos exemplos de Jesus. Encantou-se com a gruta. Resolveu botar residência dentro dela. Foi ao coronel do lugar, na intenção de comprar o terreno. Terreno para o Sagrado Coração de Jesus. O coronel não botou dificuldade. O padre, como dizem, fez aguada, para si e para os romeiros que ele queria levar para lá no dia da santidade. Fez casa também. O coronel, vendo aquilo, botou olho gordo, ofereceu dificuldade. Recebeu espraguejamento. O padre não desistiu. Deu início às romarias".
*Trecho do Livro Caminhos de Curaçá, de Esmeraldo Lopes
Assim que nascemos ganhamos o direito da recordação. Aprendemos desde cedo a elaborar um mundo que nos é ofertado incessante e intensamente. A variedade dos episódios cotidianos vai se acomodando na nossa compreensão das relações sociais e constroem, por nossa capacidade de arquivar imagens e palavras, lembranças daquilo que parece mais importante, o que se eleva à condição do que desejamos preservar.
Este trabalho, feito por todos, é determinante para a elaboração de referências e sentidos ao longo da vida. No plano pessoal, recordamos com afeto de brincadeiras, primeiros namoros, festas familiares, amizades e paisagens inesquecíveis. Contudo, somos levados a recordar também de certos sofrimentos, decepções, planos que não se realizaram, dores jamais esquecidas, traumas e tantas outras angústias. Parece condição da existência humana essa ambiguidade das lembranças. Registramos, mesmo inconscientemente, o que nos agrada e o que nos deprime.
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Na vida social, essas lembranças sofrem processos variados de absorção e instrumentalização.
Integram calendários nacionais, estaduais, municipais, criam condições para celebrações de
alguma figura ou grupo – como a Festa dos Vaqueiros de Curaçá –, designam feriados civis e
religiosos, privilegiando determinadas culturas ou cultos. Todavia, é preciso registrar que
toda lembrança escolhida para compor a memória coletiva de um lugar é acompanhada por
práticas de esquecimento, ou seja, por aquilo que certa esfera do poder ou alguma classe
social deseja relegar ao silêncio.
Nesse sentido, toda memória, além de afetiva, é política, porque se viabiliza por meio
de um
processo de seleção do que deve ser recordado e do que deve permanecer no breu do
passado.
É, pois, um trabalho de configuração da realidade social uma vez que nos obriga a
enquadrar
certos aspectos da sociedade conforme a vontade de quem opera tal seleção co-memorativa.
Os acervos, aliás, têm um difícil trabalho de pluralizar a memória coletiva de uma
determinada cidade ou região, abrigando em seus arquivos boa diversidade de trajetórias
de
vida e experiências coletivas vivenciadas em épocas anteriores. Esses espaços que buscam
a
preservação de um patrimônio cultural, entendido aqui como o conjunto de narrativas,
coisas
e formas de expressão consideradas de valor imensurável por uma comunidade – possuem,
portanto, a árdua responsabilidade de eleger qual passado as sociedades terão direito de
acessar e apreender.
Marcus vinicius santana lima é professor, pesquisador e poeta. trabalha na universidade
federal do vale do são francisco, campus serra da capivara.
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A Arquivologia é a ciência que estuda os arquivos. De acordo com o Dicionário de Terminologia Arquivística (2005), Arquivologia é a disciplina que estuda as funções do arquivo, os princípios e técnicas a serem observados na produção, organização, guarda, preservação e utilização dos arquivos. Também chamada arquivística.
Ela surgiu durante o período do Renascimento, por volta do século XV, quando o ser humano teve interesse pelo estudo de sua própria história e pela evolução econômica e política. Com o surgimento dos arquivos que ganhou maior notoriedade a partir da Revolução Francesa, surge a necessidade da formação de um profissional e a consolidação da área como ciência. Então, no século XVI, cria-se os dois pilares para a fundamentação científica da área: O princípio da proveniência ou do respeito aos fundos de Natalis de Wailly em 1841 e o manual dos arquivistas holandeses ou manual dos holandeses em 1898. Apenas no século XIX, a Arquivologia consolidou-se como disciplina científica.
Ler mais...No Brasil, a Arquivologia surge praticamente em 1838, com a criação do Arquivo Público do Império, atual Arquivo Nacional, no qual, recebeu muita influência da Arquivologia francesa. Porém, a Arquivologia brasileira ganhou maior notoriedade com a criação do Curso Permanente de Arquivos do Arquivo Nacional em 1960, que recebeu influência da Arquivologia norte-americana e posteriormente motivou a criação dos cursos de graduação de bacharelado em Arquivologia. Com o avanço da ciência arquivística e a necessidade de suprir os problemas dos arquivos brasileiros, em 1977, o curso Permanente de Arquivos é transferido para um espaço universitário, da antiga Federação das Escolas Federais Isoladas do Rio de Janeiro (FEFIERJ), atual Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e com isso é criado o curso de bacharelado em Arquivologia. No mesmo período são criados outros dois cursos na área, um na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) em 1977 e outro na Universidade Federal Fluminense (UFF) em 1978. A criação dos cursos de graduação em Arquivologia, resultou na consolidação da ciência arquivística nacional. Atualmente, existem 17 cursos de bacharelado na área, sendo 16 em universidades públicas e 1 em universidade privada. O quadro mostra a evolução e a disseminação da Arquivologia por todo o país, desde a criação do primeiro curso de graduação em 1977. Os cursos estão presentes em todas as regiões do Brasil. A ciência arquivística também é uma área multidisciplinar e transdisciplinar que interage com as mais diversas áreas, principalmente com: a História, a Biblioteconomia, o Direito, a Ciência da Informação, a Tecnologia da Informação, a Administração, a Museologia e entre outras. A Arquivologia tem como principal objeto de estudo, o documento, independente do suporte. Atualmente podemos dizer que a arquivística trabalha em várias frentes. Além de ser importante para a disseminação e a preservação da memória e da história nacional através dos acervos históricos e permanentes, ela lida com a melhoria dos arquivos da administração pública proporcionando uma maior eficiência nas gestões públicas e é de fundamental importância na produção e preservação dos documentos digitais.
Na sociedade contemporânea há uma disseminação cada vez maior na disposição dos sistemas de arquivamentos, inovações na simplificação dos fluxos documentais, além da otimização para suprir as demandas de fácil acesso e recuperação da informação. Estas facilitações foram alcançadas pelo impacto positivo da atuação do Arquivista, contudo, seu protagonismo ainda é apagado e inundado por perguntas da sociedade como: “Arquivista”? O que ele faz exatamente?
Embora exista um desconhecimento acerca da atuação da profissão, ao abordarmos sobre a consolidação da imagem desse profissional, ela pode ser datada segundo evidências, desde as antigas civilizações pós-escrita. Autores que retratam sobre o seu surgimento, propõem e se dividem entre os séculos XVI e XVII.
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Duranti (1993, p. 9), por exemplo, afirma que, “Os primeiros elementos da
doutrina arquivística (archival doctrine) podem ser encontrados no último volume
da obra monumental de Dom Jean Mabbilon sobre diplomática, publicada em
1681”.
A profissão no entanto, teve seu desenvolvimento e suas diretrizes
regularizadas oficialmente a partir do século XVI. Sendo este, um marco histórico
que trouxe um longo caminho para a profissão em direção ao reconhecimento e
valorização atual.
No Brasil, a profissão de Arquivista foi regulamentada pela Lei n° 6.546, de
04 de julho de 1978, que confere o exercício aos diplomados no Brasil por curso
superior de Arquivologia, sendo este o responsável pelo planejamento, organização
e direção de serviços de Arquivo.
O Arquivista também atua na gestão documental classificando, codificando,
descrevendo, registrando os documentos de arquivo; elaborando suas tabelas de
temporalidade; estabelecendo critérios para guarda e descarte de documentos de
arquivo; elaborando plano de classificação e estabelecendo plano de destinação
de documentos; avaliando e ordenando a documentação; fazendo a gestão dos
depósitos de armazenamento; identificando a produção e o fluxo documental;
implantando procedimentos de arquivo, além de produzir normas e procedimentos
técnicos relativas à sua área de formação e conhecimento.
Atuantes no âmbito público e privado, proporcionam agilidade, acesso e
facilitam as tomadas de decisões no dia a dia dentro das instituições, sendo cada
vez mais requisitados e essenciais, desburocratizam e proporcionam transparência
nos processos documentais.
O século XXI trouxe a ascensão do Arquivista e seu futuro caminha para o
reconhecimento social, além de manter suas atribuições precursoras como
guardião, preservador e difusor da cultura e memória, destaca-se ainda pelo seu
exercício atemporal determinado a resgatar e preservar o passado, além de
contribuir e construir o novo futuro da sociedade, trazendo à tona sua importância,
para não mais esquecer o que é, e o que faz o Arquivista.
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Cidades se apresentam como complexos aglomerados humanos em que, a partir delas, é possível procurar por suas histórias que se criam através do encontro e atravessamento de espaços, coisas, pessoas. Os tempos de uma cidade coexistem através da memória movida por indivíduos mas também por meio do que é construído. Seja uma pedra do calçamento ou o baixo nível do Rio São Francisco em relação há outros tempos, as interferências e elaborações que um espaço apresenta podem ser notadas, e mesmo que não tenha voz de maneira literal, através de sua imagem e materialidade falam objetivamente sobre os processos históricos; eras políticas, ciclos econômicos, projetos de progresso, técnicas particulares, inclinações estéticas etc.
No sentido mais pragmático de uma cidade, as edificações antigas trazem aos dias de hoje informações de tradições construtivas, visuais, materiais; nos explicam escolhas e trazem informações técnicas, ampliando as a percepção sobre as dimensões culturais de um tipo de fazer dentro de ciclos temporais. Outro dado imprescindível para a compreensão das direções construtivas de uma localidade é sua situação em termos geográficos e regionais. A partir destas sacações, movimentos sobre o território são imprescindíveis considerar: o abastecimento e escoamento de materiais; o trânsito de pessoas, suas ideias e referências; a lida com proximidades e distâncias de aglomerados urbanos.
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O município de Curaçá, nesse sentido, apresenta uma circunstância ímpar dentre a região em
que se
insere. A cidade homônima tem suas origens num passado remoto, ainda no século XVI. Está em
uma região
que recebeu a violenta penetração de colonizadores portugueses em direção aos interiores do
então Brasil
colonial e que, a partir de então, possui uma vasta história de localidades e aglomerações
humanas que
despontaram como cidades e pequenos povoados.
Este artigo, porém, não se propõe a debruçar sobre história da região, mas nota
evidências
das
transformações políticas, econômicas e sociais dos últimos 20 anos no Brasil e região,
perceptíveis através da
arquitetura e de aspectos urbanos do município. As reflexões trazidas aqui são fruto do
Trabalho de Conclusão
de Curso intitulado “Incorporações: imagem e materialidade de arquiteturas populares em
sertões da Bahia”,
defendido em 2020, e que possui construções de pensamento que se desdobram e desejam
desenvolvimento.
Uma virtude deste punhado de ideias não é legislar sobre a atividade da construção civil
contemporânea, mas entendê-la como fenômeno intenso e pulverizado em interiores do
Estado da Bahia. Desse
modo, discutiremos o papel fundamental das rodovias federais e estaduais para a
alteração da paisagem, junto
de outros pilares importantes alçados nos dois primeiros mandatos do presidente Luís
Inácio Lula da Silva; a
política de renda através do programa Bolsa Família, a ampliação de crédito à população
pobre através da
Caixa Econômica Federal vinculada ao desenvolvimento no setor industrial da construção
civil, e seus
desdobramentos em relação ao crescimento econômico nacional (SINGER, 2012)
“Incorporações" trata de um tipo de arquitetura muito comum em cidades brasileiras,
principalmente na
região nordeste do país; casas térreas com fachadas de platibandas. A tese procurou
observar
o uso de
módulos industrializados de porcelanato na parte frontal das casas como um processo
plástico
e compositivo de
pedreiros e construtores, análogo à ornamentação com bordas e motivos das mais variadas
formas e influências
em alto relevo. Tais exemplos de arquitetura são ainda observados em diversas cidades
mesmo
que em pouca
quantidade, fato cultural vastamente documentado pela fotógrafa soteropolitana Anna
Mariani
(2010) e estudado
pela professora pernambucana Maria de Betânia Brendle (1995).
A intencionalidade que historicamente há sobre fachada de platibanda é algo que rege sua
composição
no presente, que permanece. As marcas de um trabalho manual não se encontram mais no
procedimento de dar
forma à matéria que vai compor a fachada. O trabalho do pedreiro está, então, no jeito
com
que esses materiais
são introduzidos às fachadas. A ideia de destaque trazida por um pedreiro João Ferreira
(nome fictício, a pedido
do entrevistado) ilustra este pensamento, em que a necessidade de produzir algo
diferente
ainda é evocada pela
superfície. Isso é notado pela ação que produz esses destaques, que escolhe e diagrama
as
peças modulares.
É quando se choca o caráter homogeneizante dos materiais industrializados, quando se
percebe
que o trabalho
de composição sobre as fachadas pode ser reconhecido. Portanto, o novo trabalho
executado
passa a ser visto
na medida em que os pedreiros se apropriam desses materiais e imagens. A planificação do
ornamento em
imagem traduz a planificação do trabalho manual em indústria, esvaziando-o em parte de
uma
expressividade
artesanal marcada pelas fachadas antigas.
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